Psicólogo bom pra cachorro? Sim, pra cachorro e pra gente
Por Helena Gomes
Psicóloga e Coordenadora Técnica da Ong Ateac
O que, afinal de contas, um psicólogo está fazendo em atendimentos com cães co-terapeutas? O psicólogo é um profissional que ajuda no andamento do atendimento, olhando e escutando tudo e todos, com uma bagagem de quem está apto a entender o que chamamos de inconsciente, comportamento, empatia e tantas outras palavras que estudou profundamente.
O psicólogo propõe atividades terapêuticas a partir do desenrolar do encontro entre pacientes, cães e voluntários. Não, o psicólogo não descreve o sentimento. Ele promove, ou tenta, estabelecer a continuação do trabalho que é desenvolvido entre o cão, o atendido e o voluntário. E o psicólogo que trabalha com Terapia Assistida por Animais (TAA) tem uma sorte enorme de ter os cães como a peça fundamental da interação. Tudo que nos é difícil falar, colocar, sentir passa a ser demonstrado com os cães de forma lúdica e completamente aberta. As barreiras do outro, do julgamento e da necessidade das palavras são afastadas diante daquele ser único, que não tem a compreensão consciente do que acontece. É possível afirmar que, durante o trabalho, os cães percebem o que fazem com os atendidos. Para o psicólogo basta observar, perceber o atendido, compreender o desenrolar das atividades, conversar com os voluntários propondo novas abordagens e a evolução do atendimento – além de agradecer muito ao co-terapeuta e, principalmente, aceitar que, como psicólogo, é mais um neste atendimento.
Há uma relação diferenciada sim: lidar com os voluntários, os cães e os atendidos é completamente diferente de uma clínica. O psicólogo não tem uma relação de transferência do atendimento. Ao contrário, ele fica quase que imperceptível diante das relações que se fazem. Algumas vezes ocorre uma transferência por parte do voluntário que está mais próximo ao profissional.
O profissional não deve se colocar como um terapeuta para o voluntário. Afinal, este está lá por querer ajudar ao outro. Muitas vezes, o voluntário percebe que ajudar o outro, é sim, uma maneira inconsciente de, alguma forma, compreender a si. Não, não se trata de uma fuga ou de querer preencher algum vazio. A pessoa parece estar se descobrindo neste caminho. Alguns, descobrem que não conseguem, por razões que a própria razão desconhece.
Outros, no inverso proporcional, ficam cada vez mais envolvidos. Parece que o coração cresce, a humanidade e o cuidado com o outro torna-se algo tão valioso que é difícil descrever tal sentimento. Mas sobre afeto e o ser afetado, é possível falar. O envolvimento do voluntário com seu cão ou com o cão voluntário já denota um carinho e cuidado com quem não pode falar, sem diálogos, preconceitos ou defesas. O cão antecede a pessoa voluntária, pois ele é a forma objetiva e real de que a pessoa que ali está aceita o diferente.
Algo que a humanidade tem perdido dia a dia. Tudo é muito estudado, avaliado, comprovado em dados estatísticos. No entanto, pouco vivenciado, desvalorizando as relações que se fazem. Há uma necessidade de relatar uma atividade, mas não percebemos o quanto o relato perde sentido para o momento exato em que o cão, o atendido e voluntário estão ali, naquele milésimo de segundo, vivendo. O que nos é subjetivo deveria ser proibido retratar.
O atendimento com cães, supervisionado por psicólogos, ainda é algo novo sim. Mas, para exercê-lo, bastam três pontos fundamentais: gostar de animais, acreditar nas pessoas e ter humildade.
A construção deste trabalho se faz por si só, basta querer entender. Venha conhecer o trabalho e saberá por experiência a mudança que ocorre, nos quatro envolvidos: cães, atendidos, voluntários e psicólogos
4 Responses to Psicólogo bom pra cachorro? Sim, pra cachorro e pra gente
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“Alguns anjos não possuem asas, possuem quatro patas, um corpo peludo, nariz de bolinha, orelhas de atenção, olhar de aflição e carência.
Apesar dessa aparência, são tão anjos quanto os outros (aqueles com asas).
E se dedicam aos seus humanos tanto quanto qualquer anjo costuma dedicar-se. Que bom seria se todos os humanos pudessem ver a humanidade perfeita de um cão!”
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Maravilhoso texto!
Parabéns, Helena! Bendita , a hora, quando nos conhecemos e pude ver a grandeza desta ” baixinha”!!
Tomara todos voluntários ATEAC e muitos q queiram adentrar na TAA , LEIAM ESTE TEXTO!
Bjoos,
Sílvia
Silvia, vc não sabe o qto mudou minha vida…não tem a noção do qto me sinto realizada pessoalmente e principalmente, profissionalmente. Obrigada pela Ateac existir.
Amo demais.
Abração, Helena.
Privilegiados aqueles que podem exercer a TAA em parceria com um psicólogo! Ainda mais privilegiados os que tem a sua parceria, Heleninha! Excelente texto de uma psicóloga que: gosta de animais, acredita nas pessoas, é humildade e extremamente competente e comprometida com o que faz!
que trabalho lindo, Helena você merece todo o meu respeito, li o texto e me emocionei e acabei chorando, trabalho lindo de todos, agora mais do que nunca sei que preciso adotar um cão para o meu baixinho Down. PARABÉNS.