O menino e o cachorro
Emoção, sorrisos, cumplicidade fazem parte da rotina de atendimentos dos cães-terapeutas. E essa receita agora foi acrescida de inspiração. Eleida Campos, psicóloga do Capsi Carretel transformou o encontro entre Branco e Carlito em um texto emocionante:
“Você olha e vê dois, mas na realidade são apenas um, o menino e o cachorro.
O menino vem da rua, no bolso carrega o vento, e que vento! Na cabeça, suas histórias, e nas palavras, alguns silêncios. Um quebra-cabeça de mil peças espalhadas no tempo, com pouco assento.
O cachorro vem do apartamento, nas patas carrega o vento, e que vento! Com seu pelo dourado, que o batizou Branco, e com seus olhos doces de fiel escudeiro.
Os dois se encontram no quintal do CAPSi Carretel, quintal que também carrega o vento, e que vento! Lugar de tratamento, onde a palavra encontro sempre acrescenta ou retira um ponto.
O cachorro tem um dono, que no momento do encontro, entre menino e cachorro, passa de dono a amigo do menino e o menino a dono do cachorro, mas o cachorro, dono do menino, pois seu coração se enternece, sua alma se entrega, os dois sempre se reconhecem.
É, confuso assim, misturado… Às vezes menino e cachorro são dois, às vezes apenas um.
O que não é confuso é que, no encontro, entre a bola que pula, o cachorro que corre, o menino que grita no meio das gargalhadas, um quebra-cabeça de mil peças espalhadas no tempo se junta e toma acento.
O fiel escudeiro, ao lado do menino, é a parte que sustenta e dá força, contorno. Cachorro Terapeuta, é bicho esperto, é presença que não invade, é olhar que não exige, é a expectativa do agora, sem perguntas. Só um latido, que tem sentido: Me joga a bola!
A bola? Ah…essa passeia, brincam de esconde-esconde, rolam pelo chão afora. O menino se aninha, o cachorro acolhe. Nesta hora, aparece o dono amigo, amigo dono. Ele oferece o colo, ensina o comando da bola, o tom da palavra, o caminho do afeto. E entre a bola que pula, o cachorro que corre, o menino fala o mundo e dele recolhe seus pedaços.
O final é sempre do menino: Vamos dar água? E o dono amigo, amigo dono já sabe que o encontro se encerra na farra:
O menino coloca no chão a bacia de água e a bola. O cachorro se aproxima, abocanha a bola e joga na água, em seguida, na farra, vira a bacia e o menino olha o amigo dono, sorri e grita, bravo de mentirinha: Não, Branco, isso não pode!
Na hora da despedida, o abraço, testa com testa, cachorro e menino. O dono chama: Vamos, Branco, o cachorro não se move, olha o menino, o menino olha o cachorro. Hora de ir com a promessa de que, na semana seguinte, eles possam se encontrar novamente.
O menino volta pra rua, levando no bolso o vento e no coração, seus amigos. De quebra cabeça montado, às vezes mais assentado para um novo vir a ser.”
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- Carlito, Branco e Bebel – Fotografia Renato Liserre
3 Responses to O menino e o cachorro
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Bem vindo ao blog da ATEAC!
“Alguns anjos não possuem asas, possuem quatro patas, um corpo peludo, nariz de bolinha, orelhas de atenção, olhar de aflição e carência.
Apesar dessa aparência, são tão anjos quanto os outros (aqueles com asas).
E se dedicam aos seus humanos tanto quanto qualquer anjo costuma dedicar-se. Que bom seria se todos os humanos pudessem ver a humanidade perfeita de um cão!”
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Parabéns pelas palavras, pude ver as cenas em minha imaginação!!
Esses cães terapeutas e a equipe de voluntários são um algo a mais na vida de muitas pessoas.
Muito obrigada pelo carinho Paula!
Lindas e emocionantes palavras! Parabéns! Pelo texto e pelo belo trabalho. Queríamos eu e a minha Nina também participarmos de um projeto tão maravilhoso.