O dia do ser humano
Síndrome de Down. Definições importantes já nos foram feitas, que geram um maior conhecimento e desenvolvimento do trabalho com pessoas com deficiência intelectual. Mas, vamos falar da convivência, com o trabalho sim, mas com a pessoa, um ser humano.
E como qualquer ser humano, dependemos do social, do que é aceito. Na história tivemos pessoas em escravidão, pessoas mortas por sua diferença intelectual e física, pessoas trancafiadas por seus pensamentos, pessoas e mais pessoas que diferentes daquela sociedade eram dizimadas. Foucault, filósofo que trabalhou com as questões sociais, do poder, do conhecimento e do que nos é subjetivo, trouxe em seu livro “História da loucura”, o histórico da humanidade com relação ao que nos é estranho. Não, ele não colocou assim, tão cruamente, mas nos mostrou como tantos outros, que todos aqueles que não produzem algo para a sociedade, são descartáveis. E como foram tantos…
A palavra Síndrome de Down, já nos foi conhecida de muitas outras formas, e teve que mudar exatamente, por socialmente, tornar-se preconceito. Mongolismo, retardo mental (que ainda é a definição nos termos médicos), retardado, deficiente mental… Penso que mudamos os nomes, mas quando mudaremos o que vemos, sentimos e percebemos?? Com a convivência!!! Só ela pode estreitar o conhecer o outro, antes de seu diagnóstico, antes de sua aparência, antes mesmo do olhar que seja possível conhecermos o outro em sua subjetividade.
São as relações do individuo com o seu social que nos dão os processos de identificação, vemos e percebemos o outro, como diferente, pois nossas representações nos fazem assim. Afinal, o que nos é diferente? Tudo aquilo que se faz minoria.
Os cães não percebem a mesma questão de representação social, da minoria, eles tem desenvolvido o comportamento do ser humano diante deles, dos afetos, das palavras, dos cuidados…os cães deveriam nos ensinar nessas relações.
Trabalhamos com os cães terapeutas, em uma instituição, que são atendidos jovens, e lá tivemos o prazer de estar ao lado de uma jovem, com 25 anos com Síndrome de Down, olhos castanhos, cabelos negros até a altura do ombro, com um sorriso encantador e palavras inquietas em suas percepções, que sempre nos ensina e nos faz pensar nas habilidades sociais que muitas vezes, não temos, e ela com uma facilidade desconcertante o tem. Conhece todos os cães, sabe o que gostam e como cuidar de cada um. De uma memória do que acontece ao redor. Tem uma percepção do afeto dos cães que só pessoas que trabalham podem notar. Tem sua preferência por um cão, e se identifica com uma voluntária. Identifica o feminino, os cuidados com a beleza, como toda mulher.
Ela é um exemplo que nos fica do que é ser humano, de tantas definições… Reconstruir, refazer, repensar o que significa uma pessoa com deficiência intelectual diante de nossas representações. A relação construída na vivência com os cães terapeutas e seus atendidos, poderia finalmente, nos fazer rever a condição singular de cada um. E assim, teríamos não mais um dia especial para uma determinada população, mas o dia do ser humano.
Helena Gomes
Psicóloga da Ong Ateac
14 Responses to O dia do ser humano
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Bem vindo ao blog da ATEAC!
“Alguns anjos não possuem asas, possuem quatro patas, um corpo peludo, nariz de bolinha, orelhas de atenção, olhar de aflição e carência.
Apesar dessa aparência, são tão anjos quanto os outros (aqueles com asas).
E se dedicam aos seus humanos tanto quanto qualquer anjo costuma dedicar-se. Que bom seria se todos os humanos pudessem ver a humanidade perfeita de um cão!”
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Que lindo texto ! Obrigada !
Q lindo texto ! Obrigada por compartilhar !
Minha grande amiga Helena!!
Permita-me chamá-la assim…é com grande orgulho q a qualifiquei para trabalhar na ATEAC!
Não é porque uma pessoa é uma psicóloga, q tem a grande percepção do SER HUMANO q é o portador das mais inúmeras deficiências.Quantos e quantos profissionais, apesar da bagagem intelectual, não alcançam a magnitude de cada pessoa a qual assiste.
Mas esta é a Heleninha, pequena no tamanho e grande na alma!
Bjoos,
Sílvia
Sìlvia, queridona !!! Sinceramente, estou sem palavras…bem que tentei…mas fiquei feliz demais…e os sentimentos assim, não são colocados em palavras. Muito obrigada pelo carinho, amiga com todo orgulho !!! Abração, meu e do Baco !
Carol, eu que agradeço seu carinho!!!
É mesmo um grande presente quando alguém escreve não com a “mente intelectual” mas com a alma…aquela escrita que transcede…que muito mais que comprender, …nós sentimos por que causa uma onda de grande calor e alegria e gratidão no peito…talvez pudéssemos chamar a isto, emoção…não sei…
OBRIGADA Heleninha! Por presentear-nos com a imensidão que és e que tens na alma…somente uma pessoa com uma essencia tão delicada poderia falar à luz e pela voz dos animais, dos homens, das mulheres, dos idosos, das crianças….do SER HUMANO!
Um presente assim, não tem preço!
Anna, assim eu choro…rs…abração!!!
P.S. quero assistir uma aula sua!
Lindo demais!!!
Lindo o texto e a mensagem. Só poderia ter sido escrito por uma pessoa do bem e que contribui para o bem.
Ana Claudia, faço das suas palavras as minhas!!! Abração!
Engraçado, hoje estava conversando com uma pessoa sobre os Dias de, pois hoje é o da água, ontem da Síndrome de Dowm e assim por diante….
Sim, concordo plenamente com vc Helena, pois o principal não é o dia disso ou daquilo, mas de todos nós, seres humanos, com todas as nossas idiossincracias, pois todos nós temos nossas limitações, fracassos e muito mais.
Devemos, cada dia mais, conhecer o outro sem um parâmetro do CID 10, ou sei lá que numeração, mas ver o sujeito que aqui se apresenta, e o que ele tem a nos dizer.
Iracema, psicóloga que tem um coração enorme!!!! Profissionalmente, sei que está tentando entender a Terapia com cães e agradeço demais este seu interesse! Tomara que tenhamos atividades com cães terapeutas na minha cidade natal. Ainda mais no Caps!!! Sabe que neste tempo trabalhando com os cães, percebi q o subjetivo, q tanto tentamos colocar em teoria e em atividades com relatórios que nos são possíveis perceber e acompanhar o desenvolvimento ( ou nâo) do trabalho, são facilmente, vivenciados pelos cães ??? Verdade, acompanhe se possível uma atividade…eles tem reações q desejamos ter para conseguir os objetivos q tantos almejamos…de uma forma lúdica e o melhor: sem expectativa. É sempre bom ter um co-terapeuta assim ao lado !!! Obrigada por compartilhar. Helena.
Ainda não tive a experiência de trabalhar com cães terapêutas, mas acredito que eles consigam perceber as emoções pelos sentidos, ou talves pelo olfado, não sei, pois vejo isso com meus animais, que sempre tive.
E sei também, que é justamente a palavra a que dificulta a percepção, pois aquele que fala nem sempre é entendido pelo que escuta, afinal uma palavra tem tantos significados, e cada sujeito tem suas próprias ligações….
Trabalhar as emoções, percebê-las e aprender a lidar com elas, talves seja o maior objetivo de todos…..
Parabéns a todos pelo trabalho que desenvolvem, como vc disse Helena, de uma forma lúdica mas proporcionando uma melhora nas pessoas. Isso é muito valido.
Abraços Iracema
Iracema, Venha aqui conhecer nosso trabalho!!! Quem sabe vc abra novos horizontes para este atendimento ??? abraço, Helena.