Os grandes companheiros
Por Fabiana Parajara
Ana Paula Cecconi Liserre é mãe de 4: Matheus, Luíza, Manoela e Pedro. Para ela, permitir que as crianças convivessem com animais sempre foi uma uma opção de vida. A ideia era que os pequenos, mais do que ter responsabilidades como alimentar e passear com o cãozinho, aprendessem a ter respeito e carinho pelos animais. Mas, o nascimento de Pedro, com Síndrome de Down, fez ela ver que os benefícios são ainda maiores. Ela descobriu ter em casa companheiros que ajudam a superar obstáculos. Veja que lindo depoimento:
“Há sete anos, adotamos uma cachorra chamada Nina, sem raça definida, e um gatinho achado na rua. Tínhamos três filhos. Naquela época, Matheus estava com 8 anos, Luíza, 5, e Manoela, 2. Sempre moramos em apartamento, mas isso não foi impedimento porque seria muito bom o convívio das crianças com eles. Além da brincadeira e de toda a diversão, meus filhos aprenderiam a ter respeito pelos animais e a ter responsabilidades como dar carinho, alimentá-los e levá-los para passear.
Quando Pedro nasceu, cardiopata e mais suscetível a doenças respiratórias, ficamos inseguros quanto a ter animais dentro de casa. Porém, uma vez adotados, teríamos que conviver todos bem. O cuidado com o manejo dos bichinhos e para mantê-los a uma distância segura de Pedro foi grande quando era recém-nascido, mas aos poucos fomos relaxando. Quando Pedro começou a sentar no chão e se locomover, o contato entre eles tornou-se próximo e diário, mas sempre sob vigilância.
Na casa da minha mãe, que cuidava do Pedro durante as tardes, a aproximação entre ele e Branco, o Golden Retriever do meu irmão, foi gradual. Branco passa os dias no quintal da minha mãe, e volta à noite para casa dele, o apartamento do meu irmão. O primeiro contato foi visual e, pouco a pouco, Pedro e Branco foram se aproximando. Para uma criança com Síndrome de Down, a diversidade de estímulos – visuais, táteis e auditivos – é necessária para o bom desenvolvimento físico e cognitivo. O pelo macio e o comportamento dócil de Branco chamaram a atenção do Pedro. Todas as tardes, minha mãe sentava-se perto dos dois e deixava Pedro acariciar o Branco, porque isso deixava o bebê feliz.
Quando começou a se locomover, reparamos que Pedro enfrentava alguns obstáculos para chegar sozinho ao Branco. O primeiro deles foi descer um degrau baixo. Depois, ele começou a ficar em pé em uma escada na tentativa de chegar até o cão; e esforçou-se até conseguir subir sozinho os cinco degraus que levavam ao cachorro. A relação entre eles foi se estreitando e Branco, que já era um terapeuta da Ateac, nos passava confiança para deixar que a proximidade ocorresse sem impedimentos.

- Pedro e Branco – Fotografia Ricardo Lima
Num certo dia, ficamos surpresos quando da boquinha do Pedro surgiu a primeira palavrinha: “Cadê?” Ele procurava o Branco. E assim foi. Sempre que chegávamos na casa da minha mãe, a primeira coisa que ele fazia era olhar para o quintal e perguntar ”Cadê?”. Hoje, com 1 ano e 10 meses, ele interage muito bem com o Branco, brincando de jogar a bolinha, subindo no dorso do cachorro e passando de um lado para outro. Pedro simplesmente adora o cão.
Não há um momento que eu possa dizer que tenha nos emocionado mais nessa relação entre eles. Considerando todas as dificuldades motoras que meu filho tem, em função da Síndrome de Down, cada conquista dele era muito comemorada. E ficamos repletos de felicidade ao ver satisfação do Pedro em encontrar Branco e poder ter essa proximidade.
Vendo constantemente as fotos dos dois no Facebook, uma amiga se sensibilizou e resolveu dar de presente ao Pedro uma cadelinha, também Golden Retriever, chamada Bebel. Ela tem 8 meses ainda, mas seu comportamento já é muito dócil e amável. É lindo ver que o Pedro agora tem uma nova amiga, e que está criando laços de respeito e de amor com esses cães.

- Ana, Pedro e Bebel – Fotografia Renato Liserre
Sabemos de estudos indicando que a conivência com animais ajuda a prevenir doenças respiratórias. Verdade ou não, nesses quase 2 anos, Pedro nunca pegou uma só doença respiratória. Sua saúde é excelente e não houve qualquer problema em ter os animais tão perto.
Se eu pudesse dar um conselho aos pais de crianças com Síndrome de Down, diria que é muito gratificante ver a evolução e a superação do meu filho graças a uma amizade tão pura e verdadeira. Saber que o Branco ajudou meu filho em seu desenvolvimento, faz dele um cão muito especial.”
4 Responses to Os grandes companheiros
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Bem vindo ao blog da ATEAC!
“Alguns anjos não possuem asas, possuem quatro patas, um corpo peludo, nariz de bolinha, orelhas de atenção, olhar de aflição e carência.
Apesar dessa aparência, são tão anjos quanto os outros (aqueles com asas).
E se dedicam aos seus humanos tanto quanto qualquer anjo costuma dedicar-se. Que bom seria se todos os humanos pudessem ver a humanidade perfeita de um cão!”
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É emocionante ver a relação criança/animal. A cada dia uma nova surpresa!
fiquei muito feliz com a reportagem da minha nora sobre os beneficios que os cachorros fazem para os portadores deficientes como também para os idosos e criaças enfermas.Parabéns para Ana Paula,Eduardo, Matheus, Luiza,Manoela pelo carinho e amor pelo PEDRO.
Aos amigos Eduardo e Ana Paula, fiquei feliz ao ver o querido filhinho Pedro com os grandes companheiros.As fotos estão magníficas. Desejo a vocês, e a toda a família, incluindo os cachorros, muitas e muitas felicidades.Ivete
Ana Paula
Que bom rever o Pedro, ele cresceu e parece uma criança feliz. Espero que a vovó Elda também esteja bem e feliz. Quanto aprendizado o Pedro tem proporcionado para vocês.Fico feliz de ver o desenvolvimento dele. Desejo de coração que muita sabedoria e prudência sejam companheiras dos dias a serem vividos, e que hm.jotas descobertas permeiem a vida da família. Beijos….