Formam-se terapeutas – caninos e humanos
Por Fabiana Parajara
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- Silvia Danae Pezoa Poblete
A veterinária Silvia Danae Pezoa Poblete foi especializar-se em comportamento de cães e gatos na Universidade de Barcelona, e acabou especialista em terapia assistida por animais. Em passagem pelo Brasil, ela foi conhecer o trabalho do Ateac e apresentar um curso aos interessados em aperfeiçoar o adestramento de seus cachorros – todos eles terapeutas de quatro patas. Acabou virando voluntária da ONG. Na entrevista a seguir, Silvia conta por que gostou da Ateac e como é o adestramento de cachorros – e de seus donos!
- Como começou o seu interesse por terapia assistida por animais (TAA)?
Ainda na faculdade, pesquisei e apresentei um trabalho sobre equinoterapia. Foi meu primeiro contato. Em outubro de 2010, fiz um curso em Madrid na Fundación Bocalán (entidade reconhecida pelo trabalho com comportamento animal). Lá, eu conheci o Teo Mariscal, diretor e fundador da Bocalán, e me integrei à equipe.
- Hoje você é voluntária em algum projeto?
Sou voluntária na própria Ateac. Organizei o curso de fundamentos do comportamento canino e oriento no que for preciso. Não tenho cão próprio de terapia. Tenho uma gata que me manipula (risos).
- Em que o trabalho da Ateac se difere de outras iniciativas?
O que mais chamou minha atenção é a paixão e o comprometimento dos voluntários. Isso me motiva e me agrada muito, acho que o voluntariado dá brilho à Ateac.
- Qual é a importância do adestramento?
Não podemos supor que o cão nasce sabendo comunicar-se conosco, por mais dócil e colaborativo que seja. Nas atividades de adestramento, sempre oriento os proprietários primeiro, para que eles deixem de lado a humanização do animal. Posteriormente, com um cão treinado por um proprietário bem formado, teremos uma dupla excelente: com comunicação, sincronia e prazer no trabalho de ambos.
- Todo cachorro pode ser treinado e virar terapeuta? Por que?
Qualquer animal pode ser treinado, mas nem todos podem ser terapeutas. O trabalho junto a pessoas com necessidades especiais exige uma seleção criteriosa e rigorosa do cão. Além da correta saúde física, o animal deve apresentar uma excelente saúde emocional e uma série de testes é necessária para verificar isso. A Ateac trabalha atualmente com um teste que combina as melhores avaliações.
- Quais os comandos básicos que o cachorro deve aprender?
Os comandos básicos são senta, fica, quieto, vem, traz (um objeto), pegar o alimento gentilmente da mão das pessoas, não pular sobre as pessoas, não latir e seguir a palma da mão do proprietário. Este último comando é muito usado durante a terapia, por exemplo, para mudar o cão de lugar ao longo das sessões.
- O curso “Introdução à etologia do cão e fundamentos das Intervenções Assistidas com Animais”, no mês passado, em Campinas, foi o primeiro que você ministrou no Brasil? Como foi?
Foi meu primeiro curso no Brasil e me chamou a atenção o enorme interesse e a participação ativa dos alunos. Sempre há um intercâmbio produtivo, aprendo muito nos cursos. Adoro o feedback das pessoas e as críticas construtivas – e faço esse tipo de crítica quando uma coisa me parece errada. Acho isso importantíssimo quando queremos trocar experiências e construir algo realmente sólido, ainda mais na TAA, em que a finalidade é a assistência e o bem-estar do paciente, acima de interesses pessoais movidos pelo ego.
- O que os humanos precisam aprender para poder participar melhor?
Como disse, devemos primeiro esquecer de nossas vaidades e pensar no objetivo básico: o bem-estar do paciente e do cão de terapia. Partindo disso, o proprietário estará aberto a ouvir, por exemplo, que seu cão não é apto para TAA. Essa é uma das grandes dificuldades. Depois, o voluntário deve estar disposto a seguir as orientações e cursos de formação do cão para que o trabalho seja produtivo e seguro para todos.
- Da sua experiência, qual foi a história que mais te emociona até hoje?
Foi a minha primeira experiência, um trabalho longo, cheio de desafios e muito gratificante, com um menino autista de 9 anos. O menino era bastante comprometido e apresentava crises recorrentes. Tentamos com vários animais da associação até descobrirmos que ele gostava mesmo era de um cachorro do tio dele, uma fêmea de golden retriever, que não tinha preparo para a TAA. Tive de primeiro adestrá-la, e era um animal muito reativo. O resultado foi lento, mas muito bonito.
- Quais são os obstáculos, na sua opinião, para que a terapia assistida torne-se mais popular e amplamente aceita?
Os animais abrem as portas emocionais dos pacientes. O benefício é indiscutível. Mas, infelizmente, a TAA no Brasil e no mundo ainda luta por um lugar ao sol no ambiente científico. De um lado, muitas pessoas cultivam a ideia do cãozinho engraçadinho que vai se deixar acariciar pelo paciente. Por outro lado, temos cada vez mais pesquisas nas universidades, principalmente na América do Norte e na Europa, para medir de forma fidedigna o benefício da intervenção dos animais. A TAA não substitui outras terapias, ela as complementa, como fator motivacional. Por isso, uma TAA correta deve contar com uma equipe multidisciplinar: fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, educadores e outros profissionais. Vejo com satisfação que há vários grupos no Brasil que estão cumprindo essas metas. Isto ajuda muito na visão da TAA como algo que aporta benefícios reais.
Galeria de fotos do Curso de Introdução à etologia do cão e fundamentos das Intervenções Assistidas por Animais
5 Responses to Formam-se terapeutas – caninos e humanos
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“Alguns anjos não possuem asas, possuem quatro patas, um corpo peludo, nariz de bolinha, orelhas de atenção, olhar de aflição e carência.
Apesar dessa aparência, são tão anjos quanto os outros (aqueles com asas).
E se dedicam aos seus humanos tanto quanto qualquer anjo costuma dedicar-se. Que bom seria se todos os humanos pudessem ver a humanidade perfeita de um cão!”
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Silvia, ´
Gostamos muito da sua presença!!! Espero q venha sempre, até pra ver como a Heleninha está indo. Só temos q agradecer e desejamos tudo de melhor para vc…super lambida do Baco e um abração da Helena !!!
Hahaha, Baco querido, me diverti muito com você e a Helena. Adestre bem a sua doninha, para que ela te de muitos petiscos, cafunés, passeios e tudo o que você merece. Heleninha, que bom ver proprietárias conscientes e engajadas como você. O trabalho na TAA requer justamente isto, amor, paciência, dedicação diaria, conhecimento e respeito ao animal e ao paciente e isto vocês tem de sobra. Que dupla incrivel!!
Olá Silvia! Em primeiro lugar, parabéns por sua entrevista e pelos esclarecimentos prestados a pessoas que como eu, gostam e admiram demais o trabalho da Ateac. É muito importante saber que não basta só “boa vontade” para se fazer um trabalho de excelência como o que vocês fazem: e sua fala deixa claro que fatores como disciplina e disposição interna para colocar “a causa” antes de nossas próprias necessidades são imprescindíveis. Aos poucos vamos percebendo o quanto a ciência cada vez mais precisa compreender a relevância do aspecto emocional no trabalho pela saúde e qualidade de vida de modo geral seja quais forem as condições em se encontra o sujeito. Obrigada mais uma vez e muito sucesso!
Oi, Esse curso te form pra trabalhara como terapeuta animal? Se sim, é em Londrina, gostaria de fazer…
Olha Thamires, somos de Campinas, a socialização da Ateac acontece só aqui, para os caes terapeutas da ong.