



Em plena consciência
Por Helena Gomes – Psicóloga e Coordenadora Técnica da Ong Ateac
Muitas vezes escutamos o termo conscientização, mas, afinal, o que ele significa? Conscientizar é muito mais do que conhecer o que estamos aprendendo, ou o que nos traz uma moral, um pensamento único ou inequívoco. É uma palavra da moda: todos devemos nos conscientizar. Do que, para quê e por que? Vamos refletir. Só nos conscientizamos quando vivemos alguma situação que, até então, nos era alheia, sem importância ou distante de nossa realidade.
A gente tem mesmo essa mania de conhecer aquilo que estamos vivenciando e nos esquecemos de que, muitas vezes, há outras vivências neste mundo. A pessoa com autismo, por exemplo, vivencia de uma forma única. Só quem está perto sabe como é, e talvez, infelizmente, se interesse sobre assunto. Daí a necessidade de aprender e também apreender o conhecimento. O primeiro aprendizado é que o autismo não tem cara. Ah, nossa infinita necessidade de compreender as pessoas por seu estereótipo! Em seguida, isso tem que ficar apreendido na nossa consciência.
“ …é como sujeito e somente enquanto sujeito, que o homem pode realmente conhecer. (…) no processo de aprendizagem, só aprende verdadeiramente aquele que se apropria do aprendido, transformando-o em apreendido, com o que pode, por isto mesmo, reinventá-lo; aquele que é capaz de aplicar o aprendido-apreendido a situações existenciais concretas (FREIRE, 2001a, p. 27-28).*
A pessoa com autismo tem suas características, tão singulares e múltiplas, quanto qualquer ser humano. Mas, sim, as interações dela com o mundo são comprometidas: os afetos têm seus modos particulares e o importante de tudo isso é a tal CONSCIENTIZAÇÃO. Quanto mais as pessoas souberem o que é o autismo e suas características, mais e mais iremos saber lidar e, principalmente, entender o outro.
A minha experiência pessoal refere-se às atividades terapêuticas assistidas com cães em uma instituição de Campinas. Em um dos atendimentos, havia um jovem que estava em sala de aula, bem agitado, debatendo-se. Sim, são características que são atribuídas ao autismo. Mas, é necessário o apreender e a conscientização para perceber que há uma pessoa ali e, para além dela, pais, familiares, amigos e profissionais que estão juntos no atendimento. TODOS. Neste dia em específico, os profissionais da instituição não conseguiram acalmar o garoto. Quando os voluntários entraram na sala, junto com os cachorros, uma cão terapeuta, muito carinhosa se aproximou do jovem, apesar da agitação dele, e começou a lambê-lo. Após alguns minutos, o jovem já estava tranquilo e beijando-a. Compreensão, afeto e cuidado são palavras que não nos cabem descrever. Foi uma interação genuína, partindo de ambos. Essa cena foi uma das cenas mais emocionantes que presencei em trabalho.
Meu desejo é que possamos ter mais dias de conscientização e de compreensão: do outro, de si, de todos nós – com nossas características singulares e plurais. Que possamos compreender o autismo, não como uma via única de comunicação, mas como oportunidade de trilhar novos caminhos que nos levem a comunicações, afetos, carinhos e amores.
*Freire, Paulo. Extensão ou Comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001a
Imagens de Atendimentos da Ateac

Mel, Wesley e a voluntária Marisa – Fotografia Alexandre Costa

Maia e Karina – Fotografia Paula Castro

Yuli, Leo e a voluntária Ana Cláudia – Fotografia Eliza Rei
Bem vindo ao blog da ATEAC!
“Alguns anjos não possuem asas, possuem quatro patas, um corpo peludo, nariz de bolinha, orelhas de atenção, olhar de aflição e carência.
Apesar dessa aparência, são tão anjos quanto os outros (aqueles com asas).
E se dedicam aos seus humanos tanto quanto qualquer anjo costuma dedicar-se. Que bom seria se todos os humanos pudessem ver a humanidade perfeita de um cão!”
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