



ELES SÃO O EXEMPLO: Vida e missão dos cães terapeutas
Quando a maioria das pessoas ouve a palavra “milagre”, logo faz associação com espiritualidade, crença ou religião. Alguns, mais céticos, associam este conceito com a medicina ou ainda com o desenvolvimento tecnológico. O fato é que muitos milagres da vida independem de tudo isso. Eles podem acontecer através do extravasamento de emoções, sendo a alegria um poderoso remédio para humanos e animais.
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- Fotografia – Lucas Leite
É a partir dessa ideia que a pet terapia foi criada, desenvolvida, aprimorada e aplicada, visando a perfeita combinação entre humanos e animais, com a finalidade de promover a reciprocidade de alegria entre ambas as partes com fins terapêuticos. E, acredite, a partir desta harmoniosa união, muitos milagres são capazes de acontecer!
Em Campinas, interior do estado de São Paulo, uma entidade filantrópica, que atua com cães terapeutas, foi idealizada em 2005 a partir de uma experiência pessoal da bióloga Silvia Jansen, mãe de Daniel, que é portador da Síndrome de Asperger. A condição, classificada como um transtorno do espectro do autismo, tornava a interação social do rapaz extremamente dificultosa. E foi com o apoio de uma filhote da raça labrador, chamada Luana, que gradualmente Daniel aprimorou sua capacidade cognitiva. “Esta interação propiciou mais segurança, afetividade e socialização para o meu filho, ajudando-o na execução e na apresentação de sua tese de Mestrado na área de Ecologia Marinha na Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Ele tornou-se o primeiro autista brasileiro a defender uma tese de Mestrado”, conta Silvia.
Satisfeita com a realização profissional do filho, Silvia apostou suas fichas na pet terapia, fundando o Instituto para Atividades, Terapias e Educação Assistida por Animais de Campinas (ATEAC), uma organização sem fins lucrativos, cujo objetivo é aprimorar a qualidade de vida de pessoas e animais.
Atualmente a ONG conta com um grupo formado por 60 cães terapeutas e 68 voluntários das mais diversas profissões, sendo algumas muito adequadas ao trabalho desenvolvido pela entidade. “Contamos com duas psicólogas, uma médica, quatro veterinários, um adestrador de cães, uma bióloga, uma pedagoga e uma professora de Educação Física”. Neste quadro de voluntários, Silvia declara que gostaria de agregar também profissionais das áreas de fisioterapia, fonoaudiologia e terapeutas ocupacionais.
A formação profissional destes voluntários contribui com cerca de mil atendimentos realizados por mês nas nove instituições assistidas pela entidade. São elas: ADACAMP (que trabalha com pessoas autistas); Pestalozzi (que assiste pacientes com deficiências múltiplas); CEVI (entidade de Saúde vinculada à Prefeitura de Campinas que trata de pessoas com deficiências mentais); Hospital Ouro Verde (nos setores de pediatria, ortopedia, psiquiatria, clínica geral e pronto atendimento); Hospital das Clínicas da UNICAMP (no setor de pediatria); Centro Corsini (na Unidade de Apoio Infantil, assistindo crianças cujos pais são portadores de HIV/AIDS); Clínica Gênesis (que oferece cuidados a idosos); e Hospital Mário Gatti (no setor de pediatria). Além das fronteiras do município, a ATEAC atua também no Hospital Municipal de Nova Odessa (no setor de pediatria).
Perfil dos cães terapeutas
Cães terapeutas possuem um perfil muito típico. Além de serem tratados e examinados constantemente atestando saúde física e higiene, que são fundamentais para a interação com humanos em clínicas e hospitais, eles são avaliados pelo temperamento. “Eles devem agradar e conquistar os pacientes de maneira gentil, demonstrando empatia imediata com os sentimentos das pessoas assistidas”, explica o veterinário Dr. Fábio Nakabashi, responsável pela saúde dos animais que atuam na ATEAC. O profissional ressalta ainda que uma característica comum aos cães terapeutas é relacionarem-se de forma mais intensa com humanos do que com outros animais, dedicando a eles total confiança. E é a partir deste perfil que estes cães mantêm auto-controle e foco nos seus proprietários, exercendo suas atividades conforme o treinamento que lhes é aplicado.
“O cão terapeuta é um instrumento de trabalho para garantir mais humanização e participação do paciente no tratamento. De forma generalizada, o cão aceita ser manipulado e passa um sentimento de alegria e gratidão pelo carinho recebido”, explica o veterinário ao contar sobre o treinamento do animal para o trabalho exercido. Mas ele ressalta que o cão não é um instrumento que atua de maneira solitária com o paciente. “O trabalho com Terapia Canina é obrigatoriamente multidisciplinar. Envolve o médico que acompanha o paciente, a enfermeira que lida com ele diariamente, o psicólogo que fará a avaliação da interação cão-paciente, o fisioterapeuta ou terapeuta ocupacional que indicará o exercício mais apropriado para o desenvolvimento do paciente e o médico veterinário que examinará o cão em seu aspecto clínico e comportamental, além de avaliar se o exercício é ergonometricamente correto para o cão. Além disso, um adestrador pode ser necessário para preparar o animal, dependendo do exercício proposto”, conclui Nakabashi.
Cães que promovem milagres
Com o perfil comportamental ideal, saúde adequada e treinamento apropriado, os cães terapeutas parecem adquirir super-poderes! Eles tornam-se aptos a trabalhar com qualquer tipo de paciente, oferecendo suporte para crianças, idosos e pessoas com as mais variadas deficiências ou síndromes.
Mas como então escolher qual cão é mais adequado para assistir determinada instituição? De acordo com o médico veterinário Nakabashi, a escolha se dá muitas vezes pelo tamanho dos animais em associação com o local onde eles vão atuar. “Em hospitais, por exemplo, buscamos selecionar cães menores, já que animais maiores não podem subir no leito do paciente e ficam limitados a passeio nos corredores ou terapia em salas específicas”, explica. “Os cães mais alegres e com mais nível de energia são direcionados para atuarem com crianças em boas condições físicas”, conta. O objetivo, conforme o profissional, é visar sempre a reciprocidade para a disseminação do poderoso efeito curativo provocado pela alegria mútua entre o cão e o paciente.
Portanto, o reconhecimento do sucesso da pet terapia deve-se ao aprimoramento da qualidade de vida humana associada a satisfação do cachorro. “Esta é uma interação de duas vias. E isto é uma das coisas mais importantes quando se seleciona um animal. Notar o prazer e a alegria quando está presente na terapia, com o rabo abanando, o olho no olho e a vontade do cão de se aproximar do assistido”, complementa a fundadora da entidade, Silvia.
Além de testemunhar o sucesso da pet terapia com o seu filho autista, Silvia teve o prazer de participar de histórias emocionantes ao longo do curso das terapias proporcionada pela ATEAC. Ela conta que um dos casos que mais a marcou nessa trajetória foi de uma menina autista de 10 anos que nunca tinha falado. “Foi um caso emocionante! Após três sessões de pet terapia realizadas em um intervalo de três semanas, a paciente começou a balbuciar ‘au-au’ ao chegar o cão que a atendia. Com isso, ela mostrou a todos, inclusive aos pais, que tinha plena capacidade de falar e se relacionar. E seu quadro foi progredindo desde então, e passados dois meses ela começou a chamar o animal pelo nome. Em seguida, passando seis meses, já construía pequenas frases, como ‘Luana (o cão) joga bola’, progresso que chama a atenção pela figura central do animal no quadro evolutivo”, conta com entusiasmo a fundadora da ONG.
São casos como estes que nos fazem novamente refletir sobre o conceito de “milagre”. Um fenômeno positivo que pode ocorrer pela pura disseminação do sentimento de alegria.
Texto: Juliana Castro
Fonte: Mais Q Pet – Edição 1 – paginas 61 a 63
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“Alguns anjos não possuem asas, possuem quatro patas, um corpo peludo, nariz de bolinha, orelhas de atenção, olhar de aflição e carência.
Apesar dessa aparência, são tão anjos quanto os outros (aqueles com asas).
E se dedicam aos seus humanos tanto quanto qualquer anjo costuma dedicar-se. Que bom seria se todos os humanos pudessem ver a humanidade perfeita de um cão!”
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